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Istambul - os turcos, arménios e curdos

Viajar sozinha em Istambul, sendo rapariga não é tarefa fácil. É preciso muito jogo de cintura para contornar todos os curiosos, vendedores e RP (relações publicas) de restaurantes que me abordam nas ruas.
Acabadinha de chegar à cidade mas já noite escura, vou explorar o Bairro de Sultanahmet onde fica o meu hostel e onde se encontram as grandes atracções da cidade bem como grande parte dos hotéis e restaurantes para turistas. Mal viro a primeira esquina a seguir ao hostel sou abordada pelo meu primeiro vendedor. Faz imensas perguntas umas atrás das outras: de onde sou, se falo inglês e/ou francês, o que já conheço da cidade e se queria ir ver a vista do terraço da loja dele. Isto tudo num espaço de segundos. Eu sempre com sorriso na cara, agradeço mas digo que acabei de chegar e estou mortinha para ir espreitar as atracções que estão mesmo ali ao lado. Ele grita algo em turco para os colegas no interior da loja e pergunta se me pode acompanhar. Eu digo que sim e nas próximas horas tenho uma visita guiada gratuita por grande parte da cidade. Afinal o vendedor de tapetes é o Sabi, um dos muitos guias da cidade e parece que muito requisitado uma vez que é dos poucos que fala francês. Alem de me explicar toda a história da cidade e de muitas das atracções, conta-me também grande parte da sua história. Tem 35 anos (que parecem 40), a família da Arménia (uma das minorias do pais), divorciado de uma russa, já viveu em Paris e na Bélgica e alem dos tapetes tem outros negócios na área da construção. O Sabi foi a minha entrada perfeita pelos meandros de Istambul. Trocamos de números e ficamos de nos encontrar nos dias seguintes. Isto, claro, na minha ingenuidade de recém chegada à cidade, uma vez que na pratica passei os restantes dias a evitar a rua da loja dele. A minha história com o Sabi estava destinada a ser contada apenas naquelas primeiras horas de Istambul.

Todos os dias tinha a companhia do RP do restaurante do meu hostel, o Irfan também conhecido como Prince (deixo aqui a foto para vocês próprios avaliarem a parecença ou não, com o cantor). Todos os dias me tentou convencer a ir conhecer o ambiente nocturno na cidade mas para sua infelicidade, todos os dias recusei simpaticamente. Segundo ele, apenas como casal se consegue entrar em determinados locais e coitado do rapaz, tanto ele queria ir aquele bar onde bailarinas exóticas com pouca roupa, lembram a estes homens as formas do corpo feminino quase sempre tão escondido por estas zonas.



Conheci também o Temiz – o George Clonney dos tapetes (mais uma vez podem avaliar a parecença na foto abaixo), um dos milhares de vendedores do Grande Bazar. Comprei umas chávenas de chá na loja do primo e ele convidou-me para tomar chá na sua loja de tapetes. O Temiz é turco mas viveu também na Holanda onde o pai tem negócios e tem família espalhada por vários sítios do mundo, a vender tapetes turcos, claro. Um rapaz muito interessante, com o sonho de abrir um restaurante turco em Lisboa, que me proporcionou uma tarde super agradável de conversa mais uma vez centrada nas diferenças culturais entre os turcos e uma tuga como eu.
O mais dramático foi o Ferat, um curdo orgulhoso que se colou a mim durante dias e achou que poderíamos ser amigos para a vida. O Ferat estudou física e é tradutor de Inglês para a TV nacional, está em Istambul em casa de amigos uma vez que ele é do sul da Turquia. Conta-me como funciona a luta dos curdos para se manterem independentes dos turcos, que muitos dos amigos dele tiveram dificuldade na universidade porque para eles o turco embora língua oficial, não é a língua materna e de como só fala curdo com a família. Fala-me de toda a complexidade de um país, que não está representado em Istambul, um país que a meu ver esta muito dividido e longe de ser pacifico e democrático. Associo imediatamente esse movimento à ETA em Espanha e pergunto-lhe se eles são terroristas. Ele primeiro olha-me com uma expressão congelada e depois responde um não seco. A conversa acerca da luta dos curdos ficou por ali e eu a partir desse momento fui incapaz de me descartar deste “amigo”, o que me proporcionou algumas horas um pouco tensas.

1 comentário:

MP disse...

Olá!

Este é o tipo de conhecimentos (para o bem e para o mal) que só dá para fazer quando a pessoa viaja sozinha ou quando muito com mais uma pessoa...

Quando estive em Bruxelas tb tentou travar conhecimento comigo um árabe (?) e ainda me mostrou uma catedral um cozinheiro francês (que nao falava ingles) que estava a visitar um amigo - descartei-me rapidamente dos 2 com o argumento de que tinha UM amigo à minha espera... ehehehe.