O mundo mesmo aqui ao lado.

Panamá - Cidade de Panamá

Cidade do Panamá é uma estranha mistura entre o antigo - colonial e tipicamente latino e o actual - torres e mais torres de betão que nada têm a ver com cultura latina. Esta é a imagem que resulta da injecção de grandes quantidades de dólares no país, dinheiro proveniente do Canal do Panamá.
Tive a sorte de visitar a Ciudad Vieja num Domingo. Estava montada uma feirinha com comidas típicas, artesanato e um sarau de crianças dançarinas que com os seus trajes coloridos bailaram cumbias e afins. Tive também a sorte de me cruzar com pessoas interessantes que tiveram a amabilidade de dispensar uns minutos do seu dia para trocar dois dedos de conversa comigo – desde o chef Panamense que já tinha estado em Portugal quando fez a peregrinação no Caminho do Santiago e se recordava de ter comido enguias e bebido bom vinho, até ao Chileno, dono de uma loja de recuerdos que me deu abrigo quando de repente caiu uma chuvada descomunal e entre umas colheradas de gelado e um café se falou entre os diferentes países que estavam ali representados.
Foi um dia rico para uma viajante solitária.

















Panamá - Bocas del Toro

Bocas del Toro, grupo de ilhas do Panamá na costa do caribe. Mais um dos sítios que vive de/para o turismo.
Cheguei à ilha Cólon já de noite depois de um percurso de lancha a alta velocidade. À saída da lancha, um grupo de rapazes espera os turistas e não nos largam enquanto não dizemos em que hotel vamos ficar e se garantirmos já uma das variadas viagens / excursões que nos permitem ver golfinhos, tartarugas, estrelas do mar, pássaros, praias desertas e mais, muito mais…
É o paraíso natural, sem dúvida mas vem acompanhado de uma ilha bem pequena que consiste numa rua principal onde estão muitos dos hotéis, supermercados, restaurantes e bares da ilha. No segundo dia já muita gente sabia que eu era a rapariga portuguesa e muitos mesmo o meu nome, perguntavam-me porque não ia ás festas no bar da esquina (musica reggae e charros não é a minha onda), convidavam-me para passeios particulares a ilhas desertas, com direito a massagens e uns passinhos de dança,….
Muito rapidamente fiquei claustrofóbica e nem o prazer de ver tartarugas e paisagens de um verde e azul lindíssimos me convenceram a ficar mais tempo. Sítios pequenos não são para mim.













GUATEMALA - Vulcão PACAYA

Ainda em Antigua decido subir ao vulcão Pacaya com um guia local. O Pacaya é um dos 4 vulcões activos da Guatemala. Tem erupções contínuas e a subida de 2 horas é algo exigente principalmente para mim que estou com o pé torcido.

A paisagem é magnífica, tiro fotografias como se não houvesse amanha à medida que me aproximo do topo. Subimos até ficar a metros da lava que escorre da cratera. Os restantes turistas tiram fotografias enquanto assam espetados em paus bananas ou marshmellows vendidos no início da subida, para se aproveitar o calor da lava mesmo ali ao lado.


A lava onde colocamos os pés tem 4 dias de idade e começo a apanhar amostras ajudada pelo guia, que muito rapidamente me enche uma mochila com os exemplares mais bonitos. Todos gozam comigo por fazer a dura descida carregada com “pedras” mas eu estou mais feliz que nunca, afinal de contas acabo de ter uma das mais incríveis experiencias e provavelmente irrepetível em outro lugar do mundo, estar a 1 metro de lava que escorre de um vulcão activo.


Ainda bem (ou não) que por aqui ainda não se aplicam regras de segurança e pude ter esta oportunidade de desfrutar da natureza no estado quase selvagem. Este é o grande forte de toda a Guatemala. Ainda não chegaram cá as grandes multidões e os turistas de “pacote” que arrastam consigo pesadas infra-estruturas que destroem toda esta beleza natural.




Vulcões Fuego, Acatenango e Agua

Vulcão Fuego



A coxa e o bastão






GUATEMALA - Antigua


Setembro 2009

Aterrei na Guatemala e segui directo para Antigua. É uma cidade pequena mas cheia de historia, património Mundial da Unesco, que fica a 30 minutos de autocarro da capital Cidade da Guatemala, esta última a evitar, uma vez que os índices de criminalidade (de todos os tipos) são assustadores e capazes de demover até o mais aventureiro dos viajantes.

Antigua é uma das cidades mais castiças da América Central, uma óptima porta de entrada para quem vem da Europa uma vez que toda ela está estruturada para receber os turistas, cidade onde o asfalto foi substituído por um bonito empedrado, ideal para torcer pés (coisa que fiz logo no 2º dia de viagem e me obrigou a tomar analgésicos durante os 30 dias seguintes) e cidade onde dancei as melhores salsas de toda a minha viagem (mesmo com o pé torcido, hein!!).

A cor dominante nas igrejas e demais monumentos é o amarelo e o ponto de encontro de turistas e locais faz-se na praça central. É lá que as vendedoras vestidas com trajes tradicionais hiper coloridos e com combinações de cores impensáveis para uma mulher europeia, me assediam com os seus produtos de artesanato: pulseiras, brincos, lenços e tudo o mais. O artesanato em si não me cativa mas a minha maquina fotográfica fica deliciada com todas as cores, cabelos e feições indígenas, os bebes que as mães carregam enrolados em panos ou pela mão, a coqueteria das adoslecentes com as fardas da escola e a brilhantina no cabelo dos rapazes.
Antigua está rodeada por vulcões. O dominante na paisagem é o Agua, imponente e pano de fundo da maioria das fotografias, mas Acatenango e Fuego também são visíveis.

O passatempo preferido por estas bandas é sentar no banco de jardim e ficar a ver quem passa, conversar com os locais e beber uma cerveja Gallo geladinha ao final da tarde.
Para visitar esta cidade é bom vir com calma, para entrar no ritmo dos guatemaltecos (ou chapines, como eles se chamam entre si), desfrutar o máximo da sua companhia e dar tempo para nos habituarmos ao sorriso sincero desta gente, uma vez que daqui para a frente na viagem a tendência é para ver cada vez mais e mais sorrisos. Guatemala é o país dos sorrisos.

Antigua e vulcão Agua


Vendedoras na Praça Central








AMERICA CENTRAL

Passei 50 dias a viajar pela América Central: Guatemala, Honduras e um desvio por El Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Panamá.

Foi a viagem mais intensa que fiz até hoje e também a que fiz com mais tempo o que me permitiu entrar de maneira mais profunda dentro da cultura desses países e chegar mais próximo dos que lá vivem.
Viajar com uma pequena mochila ás costas, passaporte e dinheiro no bolso, deu-me uma sensação de liberdade que nem sempre consegui sentir noutras viagens. O pior de tudo é que alimentou o bichinho viajante que tinha cá dentro, deixando-o enorme, confiante e cheio de força para continuar a procurar novos destinos :)

Istambul - os sons

Os muçulmanos rezam 5 vezes ao dia. As horas de oração são calculadas em função do movimento do sol, que varia com as estações do ano e do local do mundo onde nos encontramos. As pessoas são avisadas através da chamada à oração feita via altifalantes colocados nos minaretes das várias mesquitas, onde os muezins recitam versos islâmicos em árabe. Este é o som das cidades islâmicas.





Outro tipo de chamamento, neste caso não para a oração mas para a rebelião curda, cantada pelo Ferat enquanto passavamos pela ponte Galata em pleno Bósforo.


Istambul - os turcos, arménios e curdos

Viajar sozinha em Istambul, sendo rapariga não é tarefa fácil. É preciso muito jogo de cintura para contornar todos os curiosos, vendedores e RP (relações publicas) de restaurantes que me abordam nas ruas.
Acabadinha de chegar à cidade mas já noite escura, vou explorar o Bairro de Sultanahmet onde fica o meu hostel e onde se encontram as grandes atracções da cidade bem como grande parte dos hotéis e restaurantes para turistas. Mal viro a primeira esquina a seguir ao hostel sou abordada pelo meu primeiro vendedor. Faz imensas perguntas umas atrás das outras: de onde sou, se falo inglês e/ou francês, o que já conheço da cidade e se queria ir ver a vista do terraço da loja dele. Isto tudo num espaço de segundos. Eu sempre com sorriso na cara, agradeço mas digo que acabei de chegar e estou mortinha para ir espreitar as atracções que estão mesmo ali ao lado. Ele grita algo em turco para os colegas no interior da loja e pergunta se me pode acompanhar. Eu digo que sim e nas próximas horas tenho uma visita guiada gratuita por grande parte da cidade. Afinal o vendedor de tapetes é o Sabi, um dos muitos guias da cidade e parece que muito requisitado uma vez que é dos poucos que fala francês. Alem de me explicar toda a história da cidade e de muitas das atracções, conta-me também grande parte da sua história. Tem 35 anos (que parecem 40), a família da Arménia (uma das minorias do pais), divorciado de uma russa, já viveu em Paris e na Bélgica e alem dos tapetes tem outros negócios na área da construção. O Sabi foi a minha entrada perfeita pelos meandros de Istambul. Trocamos de números e ficamos de nos encontrar nos dias seguintes. Isto, claro, na minha ingenuidade de recém chegada à cidade, uma vez que na pratica passei os restantes dias a evitar a rua da loja dele. A minha história com o Sabi estava destinada a ser contada apenas naquelas primeiras horas de Istambul.

Todos os dias tinha a companhia do RP do restaurante do meu hostel, o Irfan também conhecido como Prince (deixo aqui a foto para vocês próprios avaliarem a parecença ou não, com o cantor). Todos os dias me tentou convencer a ir conhecer o ambiente nocturno na cidade mas para sua infelicidade, todos os dias recusei simpaticamente. Segundo ele, apenas como casal se consegue entrar em determinados locais e coitado do rapaz, tanto ele queria ir aquele bar onde bailarinas exóticas com pouca roupa, lembram a estes homens as formas do corpo feminino quase sempre tão escondido por estas zonas.



Conheci também o Temiz – o George Clonney dos tapetes (mais uma vez podem avaliar a parecença na foto abaixo), um dos milhares de vendedores do Grande Bazar. Comprei umas chávenas de chá na loja do primo e ele convidou-me para tomar chá na sua loja de tapetes. O Temiz é turco mas viveu também na Holanda onde o pai tem negócios e tem família espalhada por vários sítios do mundo, a vender tapetes turcos, claro. Um rapaz muito interessante, com o sonho de abrir um restaurante turco em Lisboa, que me proporcionou uma tarde super agradável de conversa mais uma vez centrada nas diferenças culturais entre os turcos e uma tuga como eu.
O mais dramático foi o Ferat, um curdo orgulhoso que se colou a mim durante dias e achou que poderíamos ser amigos para a vida. O Ferat estudou física e é tradutor de Inglês para a TV nacional, está em Istambul em casa de amigos uma vez que ele é do sul da Turquia. Conta-me como funciona a luta dos curdos para se manterem independentes dos turcos, que muitos dos amigos dele tiveram dificuldade na universidade porque para eles o turco embora língua oficial, não é a língua materna e de como só fala curdo com a família. Fala-me de toda a complexidade de um país, que não está representado em Istambul, um país que a meu ver esta muito dividido e longe de ser pacifico e democrático. Associo imediatamente esse movimento à ETA em Espanha e pergunto-lhe se eles são terroristas. Ele primeiro olha-me com uma expressão congelada e depois responde um não seco. A conversa acerca da luta dos curdos ficou por ali e eu a partir desse momento fui incapaz de me descartar deste “amigo”, o que me proporcionou algumas horas um pouco tensas.

Istambul - mesquitas


São muitas, estão por toda a cidade, grandes, pequenas, com mais ou menos minaretes mas todas elas cheias nas horas de oração. Este é o grande contraste relativamente às igrejas católicas.

Experimento uma calma inesperada no interior das mesquitas. Para mim é um refúgio excelente do barulho caótico da cidade, do frio que faz em Dezembro. A obrigação de andar descalça nas alcatifas bem tratadas das mesquitas é um grande prazer, uma sensação de conforto que aliada às cores suaves dos mosaicos bizantinos, torna este espaço apelativo apesar de todas as crenças que simboliza (tão antagónicas às minhas).




Istambul em imagens

Mesquita Azul ou Sultan Ahmet Camii


Haya Sofia


Entardecer


Margens do Bósforo


Mercados





Mulheres



Ritual antes da oração

Istambul - TURQUIA - Inicio de viagem

30-Nov-2009
Decido viajar para Istambul, a cidade europeia de um país que dificilmente o é. É o meu primeiro país muçulmano e estou com grande expectativa relativamente ao que vou encontrar.
A chegada a um país pelo aeroporto nunca é bem uma amostra do que nos espera mas a falta de pessoas no aeroporto que falassem um inglês correcto poderia ser uma antevisão do que me espera lá fora. Esperemos que não.
Desta vez a mochila as costas foi substituída pela minha mala de rodinhas de grandes dimensões mas o espírito de viajante estava lá todo, principalmente no que toca a gastar o mínimo possível e desfrutar o máximo da cidade. Sendo assim recuso todas as “ofertas” de transporte directo para hotel e dirijo-me à estação de metro. É final de tarde e portanto deve ser hora de ponta. O metro está apinhado e o que vejo não me agrada nada: pessoas feias, com higiene duvidosa e mulheres cobertas com lenços e burcas. Desço na última estação e tento seguir as indicações para o hotel que tenho numa folha impressa, no entanto está escuro, centenas de pessoas atropelam-se na rua e eu tenho uma mala gigante para arrastar (oh, que saudades da minha querida mochila). Tomo a decisão mais difícil para todos os viajantes: vou de táxi!!! E como esperado, foi-me cobrado talvez 10 vezes mais do que o normal… enfim… a azia que se segue sempre a estes momentos passou quando finalmente coloquei a mala gigante no quarto de hotel e fiquei livre para ir sentir a cidade da maneira que mais prazer me dá: caminhando.

Viajar será um vicio?

Há um ano atrás dei comigo a responder desta maneira a uma interrogação de um amigo:
- Tens viajado muito, não tens?
- Sim! Preciso disto como de pão para a boca. Vou faze-lo sempre que puder.